O TRABALHO DOS OLHOS ESTÁ FEITO “O trabalho dos olhos está feito. Agora vá e fa

O TRABALHO DOS OLHOS ESTÁ FEITO

“O trabalho dos olhos está feito.
Agora vá e faça o trabalho do coração nas imagens aprisionadas dentro de você”.
— RAINER MARIA RILKE

“Há um limite ao olhar”, diz Rilke, nesse maravilhoso e seminal poema que contém a frase acima (“Turning Point”). “E o mundo que é olhado de maneira tão profunda quer florescer em amor”.

Isso parece “só” um poema, mas convido à uma contemplação profunda dessas palavras. Primeiro, contemplar que há um limite na mente-que-olha (através dos olhos e no processo de ver), na mente que olha o mundo físico e simplesmente o toma como se parece. Ao constatar que há esse limite, contemplar onde esse limite está sendo criado e mantido, aprisionado. Realmente “ver” as imagens aprisionadas dentro de você. Vê-las já é começar a transcendê-las e liberá-las.

A transcendência é justamente uma maneira de olhar profundamente, pois vai além das imagens aprisionadas. “Você deu muito poder a essas imagens”, diz um verso do mesmo poema. Esse novo olhar sem prisão é um olhar de amor. Porque o amor deixa as coisas serem como são, e se relaciona com quem verdadeiramente são (e quando nos relacionamos com as imagens aprisionadas dentro de nós, não estamos nos relacionando com as próprias coisas ali vivas à nossa frente).

E que bonito se relacionar com cada coisa como é, e como isso está explícito no “florescer em amor”, pois realmente o olhar sem prisão é um florescer, um reviver, um germinar em beleza e cor e pólen.

É o que Rilke chama de trabalho do coração.

Arte: Katja Perez

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