“Às vezes me pergunto o que Buda pensaria de tudo isso? O que foi que eu falei? Como chegamos a isto?” [VÍDEO]

Prestes a vir ao Brasil nos próximos dias 9 a 13 de maio, em Recife, para retiros e outros eventos (haverá transmissão online*), a monja budista Jetsunma Tenzin Palmo fez esse curioso exercício de se imaginar como o Buda Shakyamuni histórico nos dias atuais, olhando o estado do mundo e os efeitos de seus próprios ensinamentos entre os praticantes. “O que o Buda pensaria disso tudo? Como chegamos a isso?”, ela imagina, traçando um cenário onde os seres humanos correm desesperadamente para a felicidade e acabam produzir mais e mais as próprias causas de seu sofrimento. “Se isso não é ilusão, o que é?“, indaga ela.

O discurso está no vídeo que segue abaixo, falado originalmente em inglês e com legendas em espanhol que podem ser ativadas no controle do vídeo, na parte inferior. É possível também ativar a tradução automática da legenda para o português, e embora algumas expressões acabem não sendo corretamente traduzidas, é recomendável para quem não capta o espanhol. Abaixo do vídeo há também a tradução e a transcrição feitas por este blog.

Para mais informações sobre a vinda de Jetsunma Tenzin Palmo ao Brasil, visite a página especial do evento na Drukpa Brasil.

(*) Em uma nota publicada hoje, a página oficial da monja no Facebook informa que as palestras do retiro serão transmitidas online e com tradução simultânea em português.

Segue a transcrição traduzida para o português do discurso do vídeo:

“Às vezes me pergunto o que o Buda pensaria disso, se voltasse e olhasse ao redor… ” Como começou tudo isso? Sabe?… “Que foi que eu disse para que eles terminassem assim?”. É dizer que nossa sociedade está baseada em propagar e incentivar o crescimento das mesmas impurezas que o Senhor Buda disse que era a causa do nosso sofrimento. Por exemplo, nossa ganância… nossa agressão, e que a ganância e a agressão estão baseadas na mesma confusão básicas sobre quem realmente somos… E que de novo, em nossa sociedade moderna, auto-vangloriar-se é visto como uma virtude! Então…o fato que você tem cada vez mais e mais e maiores alvos de cobiça e mais e mais necessidades lhe fazem ser tomado por uma pessoa com mais importância, antes os olhos do mundo. O que quero dizer é que está é uma ilusão fundamental, que todos os caminhos espirituais tem entendido, não leva à felicidade. As pessoas querem ser desesperadamente felizes, e assim criam mais e mais as próprias causas do seu sofrimento!! Se isso não é ilusão, então o que é? Os seres humanos tem esse potencial incrível, sabe? Para se se tornarem realmente… mais que deuses! Mas o que mais fazem com seu potencial humano é destruir a si mesmo e aos outros. Quero dizer que, em vez de ser alvo maravilhoso e benigno, temos nos convertido em um câncer deste planeta… destruindo tudo! Digo, destruindo a natureza, destruindo a todos os animais, destruindo uns aos outros, destruindo a nós mesmos! Quer dizer, seria bom se alguém viesse e encontrasse um método por meio do qual as pessoas pudessem despertar… Nem mesmo Buda conseguiu isso! Então… como despertar coletivamente? Não sei… um big bang e todos fazemos PUP!”
~ Jetsunma Tenzin Palmo, em trecho do vídeo “Despertar” (Waking Up), da Global Oneness (2010)

//////////

More from Nando Pereira (Dharmalog.com)
A benção da coruja
Mas não tive nenhuma idéia tão boa quanto a que a natureza...
Read More
Join the Conversation

15 Comments

  1. says: Joaquim Oliveira

    Krishnamurti falou-nos sobre isso muito bem.
    O despertar é algo que não podemos organizar e é aquilo que os seguidores de todos os grandes instrutores tem feito.
    Existe realmente um progresso, que é admitir que estamos fragmentados, mas, criar um sistema para eliminar essa fragmentação não resulta, porque isso seria tentar organizarmos de fora para dentro, por isso, por muito que sejam criados sistemas externos, tudo tem de ser feito no sentido inverso, de dentro para fora.
    Portanto, não querendo ser presunçoso ou arrogante, perdoem-me os budistas pelo meu atrevimento, mas acho que Budha não iria ficar nada contente ao ver que tem sido usado para manter aquilo contra o qual se opunha. A ilusão do Ego. Todos os seguidores estão perdidos! Quanto a mim (é a minha opinião pessoal, obviamente) a questão não é o aperfeiçoamento pessoal mas a extinção do “eu”. A procura de simplicidade, o sacrifício de viver simples e a procura do bem, mesmo comunitário é a tentativa de um melhoramento externo e foca-se na área do Ego.

    1. says: Rosana Almeida

      Caro Joaquim, concordo em genero, número e grau com vc. Não existem mestres, somente o não criado pode ensinar, pois não esta aqui….não esta preso pela malha do aqui e agora….Como ouvi-lo? dentro de vc, mais perto do que mãos e pés…Onde? num local próximo ao coração, além dele, para além de Eus, Meus, etc…Como sensibilizar-me para isto: Não Ser…

  2. Pelo que eu estudo ha algum tempo, ja existem os metodos, mas o que mais importa e o querer mudar. Eu acredito que a maioria das pessoas tenha se decidido por nao mudar e e por isso que o mundo permanece assim. Eu acho que e possivel que em todos os universos existentes, nao querer dissipar o ego seja uma excecao. Talvez nos sejamos apenas um ponto de excecao, que pode ou nao vir a mudar em algum momento. O mais importante e nao ficar agonizando quanto a mudanca dos outros porque nao podemos mudar por eles, apesar disso podemos nos mudar e mudando a nos mesmos, podemos ajudar aos outros a se mudar. (Meu teclado nao tem acentos)

    1. Cara Camila, concordo plenamente com a segunda parte de seu comentário, gostaria de abrir uma possibilidade para a primeira parte que é sobre a probabilidade de dissipação do ego como uma excessão no universo.

      Acreditar nisso, talvez seja um sedutor raciocínio do nosso próprio ego, que busca por exclusividade. Entendo que esse estágio egóico humano é simplesmente uma repetição infindável pelos kalpas e eons. O ponto de saturação final onde a divisão chega no seu ponto máximo. Esse potencial de divisão/separação infinita do ego, gera potencial de sofrimento infinito, por isso não existir melhor forma para a iluminação do que a forma humana – podemos entender como humana toda forma que tem acesso ao potencial de separação total do todo, isso acontece quando não percebemos a existência do sofrimento, não entendmos a lei do carma, não acreditamos no nirvana e não praticamos o caminho do meio. E essa possibilidade de sofrer infinitamente é apenas o fruto da capacidade de razão, ou seja, todas as formas que conseguem usar de razão, podem desenvolver o ego total, como o nosso. A possibilidade que indico aqui é que esse fenômeno seja realmente muito natural e sempre existente.

      Sem essa possibilidade, a iluminação se tornaria praticamente impossível, pois ela já é difícil nessa forma mais apropriada humana. O sofrimento é como uma forja de sabedoria. A possibilidade de contemplarmos o sofrimento com clareza e entendermos que esse existe é possível na forma humana pois estamos tão próximos dele quanto dos nossos desejos. Por isso o caminho óctuplo ou caminho do meio é tão perfeito, pois gera equilíbrio, no desequiílibro e gera sabedoria dentro de um mar de ignorância através do cultivo da polaridade razão-fé.

      /\

    2. Oi Camila e Lucas, se a segunda parte da resposta da Camila é a que concordam(os), a primeira não faz muita diferença, não é?

      Seja qual for a cosmologia do ego, da iluminação e da vontade envolvida nesse meio (digo “seja qual for” mas também tenho interesse, embora para efeito dessa resposta sublinho algo que acredito ser mais importante), entendo que se fizermos o trabalho de esclarecimento e realização em nós mesmos, talvez nosso próprio entendimento de “nós mesmos” e do “outro” possa sofrer mudanças iluminadoras.

      E se nossas respostas também forem sedutores discursos do ego, que caiam igualmente.

      ABS,
      Nando

  3. says: Ed Gonçalves

    A pergunta que penso ser relevante e que em algum momento temos que nos fazer é:
    Queremos mesmo despertar? estamos buscando realmente esse PUF!!?
    Penso que, na grande maioria das vezes, nos só estamos buscando um lugar mais confortável, um cantinho aconchegante,longe das coisas que não gostamos… é natural não queremos sofrimento…mas será que não estamos tentando manter alguma coisa segura? coisas que não queremos abrir mão?
    É natural querer se livrar totalmente do medo da morte por exemplo, mas será que queremos nos livrar também do prazeres do samsara (que são muitos)?
    Estamos fazendo nossas práticas espirituais tentando manter algo seguro? segurando algo? estamos dispostos a abrir mão de fato?
    Temos que ter coragem para respondermos essa pergunta para nós mesmo, vasculhar cada milimetro do nosso ser e ver se estamos deixando alguma coisa que não estamos dispostos a soltar. Pois mais cedo ou mais tarde teremos que soltar todos esse nós.
    Há relatos de pessoas que diante da morte inevitável enfim relaxam e o despertar acontece, é um ultimo suspiro, seus olhos brilham como se tivessem entendido tudo, e o ego se vai, pensem… não estão mais segurando nada simplesmente estão ali diante do espetáculo da existência, livres do ego entendem aquilo que esta além de vida e morte, não há morte de fato, o ego já foi, a mente não esta mais lá, o que fica então?? esse é o mistério?
    Seguimos soltando nossos nós.
    _/\_

    1. Boa pergunta, Ed. Quem quer mesmo despertar? Quem quer abandonar os prazeres do samsara? Quem quer abandonar o trabalho que imagina garantir segurança, conforto e a felicidade? Olhar isso profundamente e ver a resposta que estamos dando é fundamental.

      Sobre a morte, difícil dizer o que aconteceu no último suspiro com determinadas pessoas, se o ego já foi, se a mente não está mais lá, etc. Se estamos vivos, o melhor talvez seja aproveitar para ver a realidade aqui e agora.

      _/\_

  4. says: Paulo Faria

    Com 73 anos,ou um aspirante a praticante do Dharma, mas como essa aspiração nasceu em minha mente, em meu coração? Para que eu reuna habilidades e meios a fim de responder minha própria pergunta, sinto que produziria um longo texto sem conseguir ficar satisfeito com minha própria resposta. Assim, não importa como isso aconteceu, se é ou não decorrência de vidas anteriores, já dou-me por satisfeito ao perceber que despertei para o Dharma, iniciando o caminho para querer me desvencilhar da prisão que é a ignorância, mesmo sem ter alguma realização espiritual, já é MUITO para mim perceber isso e iniciar a prática. Sem isso, eu estaria como a maioria, ignorante sobre a sua verdadeira natureza, buscando sentido para minha vida, de forma inconsciente, nos prazeres mundanos e atolando-me cada vez mais profundamente. Se não houver uma semente que germine em nós para perceber que estamos metidos em uma armadilha e, por isso, nada fazermos para nos libertarmos, a situação do mundo permanecerá piorando a cada dia. Costumo dizer que, nesse estado de ignorância, estamos cavando nossa própria cova, deitando dentro e puxando a terra por cima. Como disse um mestre, agimos como cadáveres vivos.
    Cada pessoa deve despertar por si só, para buscar saida da armadilha. Como diz outro mestre, estamos como mosca a se chocar contra o vidro da janela, sem perceber o obstáculo que é a transparência do vidro.
    Posso ter escrito este texto que nem eu mesmo possa entendê-lo, sorry!!!

    1. Paulo, lembre-se que tem 73 ano NESSA forma. Já viveu infinitas outras vidas. Iluminado é o fato de se identificar com o Dharma. Talvez tenha iniciado sua contagem regressiva de vidas restantes no Samsara. /\

  5. says: Cristina_ARC

    Muitas vezes fico a divagar e olho para a lacuna IMENSAMENTE GIGANTESCA que existe entre as pessoas conscientes e despertas para o esforço pessoal que representa a sua própria evolução; e as pessoas que “andam a dormir” e apenas “repetem” sem nunca terem a necessidade de questionar elas próprias ou a vida ou os seus sofrimentos. Por isso a reencarnação, para mim, faz tanto sentido…Quantas vidas precisarei para sentir aquele desconforto despoletante com o que o mundo tem para oferecer? E mesmo assim, depois de sentir esse descontentamento com o mundo, quantas vidas perdidas em “escapes” mundanos: alcoól, sexo desregrado e outras euforias anestesiantes?

    Hoje em dia, creio que o maior desafio que se coloca é a CORAGEM. Conhecimento intelectual é o que mais abunda, montes de informação de acesso imediato, podemos “alimentarmo-nos” diariamente de informação. Então o desafio é agir de acordo com a nossa crença e é aqui que entra a coragem.
    Peço perdão se de alguma forma pareço arrogante, mas isto também vale para mim.

    Obrigado e
    cumprimentos a todos

  6. Sinto que o trabalho de refinamento de nossa mente no cotidiano é o mais valioso! Pois é através das tarefas simples que conseguimos irradiar nossas melhores qualidades e são nesses momentos de despretensiosos que mais outros absorvem nossa essência que é o melhor que temos para compartilhar nesse momento. E se cada dia for um passo de encontro com a essência é um dia interessante e realmente inédito.

  7. *** Os Upanixades no tempo de Shakyamuni ***
    “Schopenhauer celebrou a tradução dos UPANIXADES como o maior acontecimento espiritual do Século XIX.
    O que se segue deve ser lido não uma, mas três vezes e lentamente, de viva voz, pois é o que de mais belo foi dito acerca da essência do universo (==leia-se, Uni-verso==). (Upanixades: “No princípio não havia nem ser, nem não ser. Não existia o ar, nem o céu sobre ele; não existia a água, nem as alturas, nem os abismos. Ainda não havia diferença entre o dia e a noite, nem entre a vida e a morte. Era escuro, e a escuridão ocultava o princípio da criação. Só um existia, e nada além dele: Brama. Mas ele ainda não tinha nenhum movimento. Nem os deuses existiam ainda, pois os deuses só mais tarde chegaram ao mundo. Por isso ninguém conhece a origem do Brama, nem os deuses a conhecem. Mas foram os sábios que acharam a relação entre o ser de agora com o não-ser de outrora. Invisível é o Brama, e todavia está em toda parte. A mão não pode contê-lo, mas ele tudo abrange. Não pode ser visto; pois é dele que vem a luz. Ninguém o pode sentir, pois todo o sentir dele provém. Por transformação, dele nasce tudo o que existe e acontece, mas ele permanece sempre o mesmo. Nada o surpreende, e nenhuma palavra diz, seja a que respeito for. Tudo vê e tudo permite que aconteça. Tudo nele é inquietação, mas ele mesmo permanece tranqüilo. Assim como dele todas asa coisas surgiram, assim a ele regressam todas; por isso é paciente e tranqüilo.” (extraido do Livro: Dr. Fritz Kahn: O Livro da Natureza – pág. 25/26 – 3ª Edição – EDIÇÕES MELHORAMENTOS – 1963 – cAIXA pOSTAL 8120 – São Paulo, Capital) == observação minha == onde “enfiei minha colher” e espero não ter estragado muito o texto.
    Obrigado Nando Pereira por nos presentear com esta magnífica página na Web.
    Toninho Claro – Lins, SP

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *