Para extrair a raiz das ilusões humanas é preciso reconhecer que ela está na própria mente

“Assim como uma pessoa que tem uma doença biliar vê uma concha como sendo amarela mesmo se podemos ver objetivamente que essa não é sua cor verdadeira, então da mesma maneira, como resultado de causas cármicas particulares dos seres, as várias visões iludidas se manifestam.

Assim, se alguém fosse encontrar um ser de cada um dos seis estados da existência* na margem de um mesmo rio,, eles não veriam o rio da mesma maneira, já que cada um teria diferentes causas cármicas. Os seres dos infernos quentes veriam o rio como fogo; aqueles do inferno gelado o veriam como gelo; os da dimensão dos fantasmas famintos veriam como um rio de sangue e pus; animais aquáticos veriam como um ambiente para se viver; seres humanos veriam o rio como água pra beber; enquanto os semi-deuses veriam como armas, e os deuses como néctar. Isso mostra que em realidade nada existe como concreto e objetivo. Então, entendendo que a raiz do Samsara é realmente a mente, deveríamos nos determinar a extrair a raiz. Ao reconhecer que a mente é a essência da Iluminação alcançamos a liberação. Assim, estar consciente que a base do Samsara e do Nirvana é apenas a mente, o indivíduo toma a decisão de praticar”.

— NAMKHAI NORBU RINPOCHE

Fácil entender a doença biliar dos outros, né? Mas a tese é que estamos todos doentes do fígado, vendo tudo amarelo, e não queremos saber disso. Achamos que estamos vendo tudo como é, como uma realidade branca cristalina, sofremos e não sabemos porque. Não reconhecemos que a raiz está na nossa própria doença biliar, e continuamos a chacoalhar o mundo pra lá e pra cá para ver se ele fica numa posição direita, que nos dê felicidade, paz e amor. A comparação que o mestre tibetano Namkhai Norbu Rinpoche (1938-2018) traz é um ensinamento simples o suficiente para traduzirmos a imensa sabedoria da Roda da Vida, ou Roda da Existência Cíclica (Bhavachakra) do Budismo Tibetano em termos que nós, doentes, possamos entender.

Se consultarmos nossas emoções, nossas visões e nossas situações de vida, qual é a nossa doença biliar? Qual a cor que vemos a concha? E o que vamos fazer para curá-la?

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(*) Os seis estados da existência, ou seis reinos, ou seis dimensões da vida condicionada, segundo o Budismo Tibetano, são: inferno, fantasmas famintos, animais, humanos, semi-deuses e deuses. Para saber mais, consulte fontes sobre “Roda da Vida” (segundo o Budismo) ou “Bhavacakra” (a imagem deste post).

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