Há um tema unificador nos praticantes desta Ioga: um sentido de desejar se reconectar consigo mesmos. O que há nessa prática que leva os alunos tão profundamente para dentro?
PJ HEFFENAN: “Conexão é a palavra chave. A fascinação, a motivação e o combustível de longo prazo para fazer qualquer coisa difícil é a conexão. A maioria das pessoas não gosta de si mesma, essa é a questão subjacente. Vivemos numa sociedade que constantemente nos diz que não somos jovens o suficiente, não somos ricos o suficiente ou não somos bonitos o suficiente para nos conectarmos TOTALMENTE com a vida. Eu acho que muitos de nós estamos esgotados do monopólio e das corridas de ratos introduzidas por nossos pais, pela TV e mesmo pelas mídias sociais. Não quero ser rico, sou grato que não sou mais jovem e a beleza pra mim é envelhecer maravilhosa e esquisitamente, e assim penso que muitos de nós escolhemos um jogo diferente, o jogo de mergulhar para dentro em um esforço para encontrar paz”.
Esse post é só isso, esse trecho acima de uma resposta do instrutor de Ioga PJ Heffernan ao projeto digital Parampara, dedicado a entrevistas com pessoas envolvidas com Ashtanga Ioga, como ensinada pelo mestre iogue Sri K. Pattabhi Jois (1915-2009). Um trecho pequeno mas suficiente, em que ressaltaria duas frases.
A primeira é a comunicação cultural que recebemos constantemente e que nos transmite de maneira muito bem sucedida (infelizmente) que “não somos suficientes“, e, assim, como traduz muito bem Heffernan, não conseguimos nos conectar TOTALMENTE com a vida. Estamos sempre “correndo atrás”. Falta. Não sei quem colocou o TOTALMENTE assim na frase dele, todo em capitular, talvez o próprio entrevistador notando a ênfase da resposta, mas ficou ótimo. TOTALMENTE com capitular fica bem TOTALMENTE mesmo. É o que sinto que buscamos: nos conectarmos TOTALMENTE com a vida.
Porque o pior não é a “sociedade” dizer, é a gente acreditar. E seguir acreditando, deixando de se conectar com a vida por causa disso. Outro efeito colateral é que uma vez acreditada, a percepção da insuficiência (e/ou de não gostar de si mesmo) se perpetua.
A segunda frase é onde ele afirma que não quer ser rico nem quer ser mais jovem. Isso é uma boa conexão (total) com a vida — ele vive no momento em que responde, e não num desejo de consertar sua “insuficiência”. Sim, não quero ser rico, quero o que tem aqui. Não quero ser jovem, quero hoje como é. Se há resistência a alguma coisa que é, então já há desconexão. Se não desejo ser mais rico ou mais jovem (até porque mais jovem é impossível, né, apesar de tantos desejos nesse sentido, o que mostra bem o nível de neuroticidade que estamos), então há paz e há a chance de me (re) conectar TOTALMENTE com a vida. “Conexão é a palavra chave“.
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Imagem do vídeo Thunderspank, de PJ Heffernan.
grata pelo excelente texto, treco de entrevista com o Mestre, que nos leva a uma reflexão profunda e avaliação das nossas escolhas…
aprendendo cada vez mais a nos reconectar….