“Se”, um poema de amor, vida e reflexão do Professor Hermógenes (1921-2015), mestre do Ioga no Brasil

A penúltima publicação do blog do Instituto Hermógenes antes do falecimento do seu fundador Professor Hermógenes, ocorrido no dia 13 de março, foi um poema de amor à vida tranquila, livre e realizada que foi intitulado “Se“, e segue reproduzido abaixo, como figurou também no livro “Canção Universal“. É uma grande reflexão de gratidão e declaração de devoção a uma vida que foi entregue e termina, ou essa é a intenção de terminá-la, sem ansiedade, sem conflito, sem discórdia, sem mentiras, sem abatimentos, mágoas ou revoltas, em confiança, paz, força, em entrega para ouvir, entender e servir, em auto-realização. “Se, ao final desta existência”, começa Hermógenes, quase como uma despedida, mas também como uma reflexão profunda sobre o viver, sobre os caminhos do Ioga e do trabalho sobre si mesmo que realiza a liberdade mais verdadeira, o auto-conhecimento, ao amor e serviço ao outro, e uma vida de gratidão ao tempo e espaço divinos.

Além do poema completo, mais abaixo, segue a leitura dele como feita pelo ator Carlos Vereza, no documentário “Deus Me Livre De Ser Normal”:

Gratidão a esse grande mestre e precursor do Ioga no Brasil, discípulo de Sri Sathya Sai Baba e defensor e divulgador do Dharma e da verdade da vida, José Hermógenes de Andrade Filho, o Professor Hermógenes (1921-2015). Um dos primeiros contatos que tive com o Ioga foi através do seu método de Hatha Ioga e do seu modo amoroso e fiel de transmissão, que me fez ver a grande tradição, a sabedoria e a prática do Ioga muito além dos ásanas físicos.

Para ler mais do Professor Hermógenes aqui no blog, veja o post “Ter uma visão mais verdadeira das coisas é Yoga”, por Hermógenes, em ‘Eu Maior’ (09/05/2011).

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Poema Se
Hermógenes

Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia…Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas…Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser…Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo…
Se algum ressentimento,Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou…

Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio…

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu…

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia…

Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende…

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim…

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito…

Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz…

Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou…

Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos, Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta.

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