Você não está no controle [2]: ações antecipadas do cérebro, ou “porque escolha inteligente é impossível?”

A segunda parte da palestra do pesquisador Gary Weber segue traduzida e legendada abaixo, completando assim a íntegra da apresentação “Ramana Maharshi e Einstein sobre Livre Arbítrio” (Ramana Maharshi and Einstein on Free Will), proferida na Conferência Science and NonDuality, em San Rafael, Califórnia, em outubro de 2009. Intitulada “Escolha Inteligente é Impossível” (Intelligente Choice Is Impossible), essa segunda parte complementa a primeira, “Tudo Está Predeterminado” (Everything Is Predetermined), publicada aqui no post anterior, e precede a parte final, intitulada “Você Não Está No Controle“, também publicada aqui, no início da semana passada – vídeo que, na verdade, foi o assunto do post original da série. Todos os vídeos estão agora traduzidos e legendados em português, com a anuência do próprio Gary Weber, que gentilmente respondeu ao blog no YouTube.

Esta segunda parte traz mais relatos dos experimentos recentes da ciência, além de abordar a influência genética e a Teoria do Caos (ou Teoria Moderna dos Sistemas Complexos). Num dos experimentos citados, revela como o cérebro age antecipadamente à consciência do próprio indivíduo num movimento de decisão, e como o “insight” também é captado antecipadamente nos eletroencéfalogramas. Gary fala também do “neurônio Homer“, resultado de uma pesquisa que identificou um neurônio como sendo o responsável isolado por uma ação de memória, e também de como os genes determinam personalidades e traços decisivos de patologia, como a tendência à aposta em jogos de azar.

Há muita discussão e pesquisa sobre todos esses tópicos, como, por exemplo, a influência genética. Há dois anos (em 2011, portanto dois anos depois dessa palestra do Gary), publicamos uma pesquisa da Universidade de Gothenburg, na Suécia, que concluía que “Estilo de vida é mais importante que genética para chegar aos 90“. Neste sentido, a abordagem do biólogo Bruce Lipton – que defende que temos uma configuração genética dada mas que nossas percepções tem grande controle sobre o desenvolvimento dessa configuração – é uma que considero fazer mais sentido, e também se conecta simbioticamente com conclusões como a da Universidade de Gotenburgh citada acima. Você pode conferir num post publicado publicado aqui também há dois anos, intitulado “Nossas percepções é que controlam nossos genes (e não o contrário), diz biólogo Bruce Lipton“.

Os slides da palestra, como aparecem nos vídeos, podem ser vistos aqui.

Segue a segunda parte da palestra (9min57seg), traduzida e legendada em português. Para ativar as legendas, clique na área embaixo do vídeo onde está escrito “Select Language” e escolha português (já deveria vir pre-selecionado). Caso o vídeo não apareça, recarregue esta página ou veja neste link alternativo.


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7 Comments

  1. says: Adrian

    O vídeo está aparecendo apenas no link alternativo e ao expandir o vídeo a legenda desaparece, entretanto o conteúdo esta acessível e as legendas boas. Esse blog é realmente muito bom. Abraços

  2. says: norma7

    Levei um susto. Às vezes esqueço de como as coisas funcionam no mundo virtual.
    Com preguiça de pegar o meu Sutra, para ver a grafia da fonética, pedi à ‘bibliotecária’ Google que pegasse para mim. Ela me trouxe um coment. (meu) daki do Dharmalog.

    O que eu estava procurando era esse princ.:
    “Nyo-ze-hon-ma-ku-kyo-to” (*) – Consistência do início ao fim.
    (capítulo Hoben – Sutra de Lótus).”

    Um capítulo que anda frequentando o meu sótão e batendo altos papos com as ‘amebas mentais’ que nele alugaram um quartinho, desde do evento “Gary Weber” e o seu vamos brincar com o livro de rola e desenrola, “Escolha a sua Aventura’ favorita entre as que estão disponíveis e comece o jogo, porque o final já está escrito. Valendo!

    (Assim até a afirmativa do Neal D. Walsch (em Conversando com Deus II): “Hitler foi para o Céu” fica mais fácil…)

    Ah, sim. Obrigada Dharmalog. por estar tão bem configurado/organizado.

    Quanto ao Post: Quando eu ‘percebo’, me dou conta, estou de volta à pag “2”, do livro, com um grande ‘MAKTUB’ – um ‘default de fábrica’. pré instalado no meu sistema e protegido, ou seja: imutável -. desenhado. (Não me sinto confortável!) OU volte para pag 3.478 (ainda em construção, para melhor servi-la – Aff!)

    Pag. 3.478:
    Todos nós dentro de uma grande ‘mente’ – essa mente estaria fora e seria coletiva – (ou interligados – Rede de Indra) = a dona do Pensamento Matriz/Original e do Sistema de Integração (aquele que nos garante dormir 8 horas, sem acordar de cinco em cinco minutos para verificar se o nosso coração continua batendo, enquanto processamos a digestão, gestamos um filhos ou crescemos). Essa sim, o real Comandante do ‘barco’ dando ‘temas’ para o cérebro (o Imediato, no caso) exercer a sua OPÇÃO de ‘criar’ em cima, partindo de um ‘cardápio pré selecionado). É isso? O que nós cabe, então? (SERÁ?)

    Pausa para + um elogio. (A demanda tá grande, atualmente. Pisc*):

    Dharmalog: Os ‘slides da palestra’, fizeram você ganhar o “Reino do Céu” em vida. Quer agora ou prefere tomar ‘posse’ daqui a muitos anos? :)
    (O conjunto ficou um belo trabalho).

    O Sr. Weber NOS aconselha viver assim: (é o que nos cabe. Nossa cota de livre arbitrio:

    Quote
    Surpreendentemente, viver no momento, aceitando o que se desenrola, assim como é, seja o que for

    Além dos limites do pensamento repetitivo (*), compulsivo, confuso

    Totalmente presente e ativo “no mundo”, sem pesar, segundos-julgamentos, ou agendas (‘esquemas’ de ação) ocultas

    Funcionando em um nível mais alto, mais criativo, sem a interferência constante de avaliar se a ação é sujeita à interação direta da pessoa (foreground) ou é um processo (background), que ocorre em segundo plano, sem a interação direta dela.

    (.background/foreground thinking – ? Nac)

    Unquote

    (*) Recursive – A recursão é o processo pelo qual passa um certo procedimento quando um dos passos do procedimento em questão envolve a repetição completa deste mesmo procedimento.

    “Para entender a recursão, a pessoa deve primeiro entender a recursão.” (Dic. Informal)

    P.S.: Depois de tudo, um oásis, no horizonte:
    “Nossas percepções é que controlam nossos genes (e não o contrário), diz biólogo Bruce Lipton“.

    Lipton, te amo! Bjo e me liga…urgente!

    Grata e Boa sorte, Norma
    (só com bom humor, Bjs)

  3. says: Tetéia Atéia

    “eu sou, eu sei, eu faço”. A mente que pensa que comanda. O “ego”.

    Um bom samadi, a percepção de existir além de um corpo, uma mente, uma forma ensina isso. Quem age, move e está em silêncio ao mesmo tempo é o mistério incomensurável, que não cabe em nenhuma palavra, nem em D*us, nem em nada. Tanto as religiões organizadas, quanto a ciência não têm como controlar esse principio ontológico. O caminho que pode ser descrito, não é mais o caminho a ser trilhado.

    O livre-arbítrio depende de minha identificação com minha mente. “eu sou, eu sei, eu faço”. De certo modo o livre-arbítrio é uma resistência, uma oposição, ao fluxo natural, o dharma, o dao, o caminho pelo qual esse mistério incomensurável se manifesta (por qual motivo, se para se perceber, ou para algum objetivo, são conjecturas de nossas filosofias e religiões, pois se é mistério e é incomensurável, nenhuma lógica ou sistema de comunicação que nasça com nosso “eu sou, eu sei, eu faço” irá expressa-lo semm distorce-lo).

    No daoismo temos o youwei (fazer) e o wuwei (o famoso não-fazer). Quem faz é a mente que se identifica consigo mesma, nesse sistema auto-recursivo que nos toma, esse sistema fechado que pensa o tempo todo, e por ser sistema fechado, sempre termina em entropia. Quem não-faz é aquele que se identifica com seu complexo corpo-mente, mas não com sua individualidade. A identidade que temos é temporária, assim como o complexo corpo-mente. Eterno só essa origem de onde a multiplicidade nasce.

    Então não há nada a mudar. Ramana Maharshi dizia que não há evolução por isso. Tudo é como deve ser, o que distorce é a percepção que resiste ao fluxo natural.

    Basta ver nossas civilizações com sua raiz em “eu vim, vi, venci”, com nossos “eu sou, eu sei, eu faço”.

    Na prática de alquimia fisiológica taoísta experimentei que tanto a unidade quanto a multiplicidade (nascida do dualismo de opostos assimétricos complementares) são processos naturais desse mistério incomensurável.

    Aquele que crê que é uma mente individual, e que sua mente individual sabe e faz, alimenta a multiplicidade, negando-a, gerando desarmonias. Aquele que sabe que não é uma mente individual fixa e eterna, e sim um complexo corpo-mente (a unidade do ser enquanto objeto pertencente a esse algo infinito e inarrável) manifesto pelo mistério incomensurável, ele não é, não sabe, e age como instrumento desse processo impessoal a sua identidade temporária. Dai há o cessamento da dor, da angustia, do desejo, da pequena vontade e das pequenas virtudes.

    Na alquimia fisiológica isso é impossível de se realizar só com a mente, é preciso eliminar o dualismo mente-corpo, unindo a mente ao corpo, tornando-os um sistema energético coerente, libertando a mente dela mesma, fazendo-a servir ao corpo, que é uma manifestação que ela, mente consciente, não controla totalmente (sistema simpático e para-simpático), dai ela se prender em si mesma, com a ilusão de controle de si e da vida.

    Por esse prisma o livre-arbítrio é só uma negação de nossa natureza. A escolha do bem ou do mal, do certo ou do errado é fruto de uma mente que quer controlar e não se submeter ao corpo em primeiro lugar, e depois à natureza, à qual o corpo pertence, e então ao universo ao qual a natureza pertence, e então ao mistério incomensurável, no daoísmo o wuji (“vazio”, mas na real, significa sem forma -e tudo que tem forma depende da relação dual entre espaço-tempo).

    Quando não mais escolhemos, quando não mais nos impomos, é quando o Dao, o Dharma, o Espírito Santo (o sem forma cristão) é quem age. E aquilo que ontologicamente é a origem de tudo que é numênico e fenomênico, aquilo que está além do dualismo espaço-temporal não diferencia as coisas em bem x mal, certo x errado, pois alimenta o movimento de tudo que há, apesar de nossas resistências. Nadar contra a maré, cansa. Resistir ao que nos é arremessado pela vida é o que gera sofrimento.

    E quem resiste é o eu que pensa que é e que acha que escolhe baseado no que pensa que é.

    Talvez o livre-arbítrio seja mesmo só uma resistência temporária, e necessária, para o indivíduo aprender a fazer, antes de entender que quem faz não é ele, mas um “Ele” infinito, por meio de seu pequeno “eu”.

    1. Excelente!

      Acho que, apesar de complicado, explorar o “sujeito” dessa questão é fundamental. Gostei muito da comparação do “livre arbítrio” com uma certa resistência ao dharma. Afinal, livre arbítrio do que? De quem? Para quem? Em que contexto?

      Essa parte é muita rica: “De certo modo o livre-arbítrio é uma resistência, uma oposição, ao fluxo natural, o dharma, o dao, o caminho pelo qual esse mistério incomensurável se manifesta (por qual motivo, se para se perceber, ou para algum objetivo, são conjecturas de nossas filosofias e religiões, pois se é mistério e é incomensurável, nenhuma lógica ou sistema de comunicação que nasça com nosso “eu sou, eu sei, eu faço” irá expressa-lo semm distorce-lo).”

      Obrigado,
      Nando

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