“Frank enviou isso”: as crianças fazem ‘errado certo’

A história é contada por Ken Robinson no livro “The Element” e também na sua participação no TED Talk, “Ken Robinson Says Schools Kills Creativity“. Especialista em criatividade e educação, ele conta essa história (verídica) como forma de demonstrar como as crianças são espontâneas, incorrem no erro sem grandes dificuldades e acham uma forma de resolvê-lo.

É mais ou menos assim.

Numa apresentação de Natal feita numa escola britânica, durante a encenação em que os três reis magos aparecem no nascimento de Jesus, três crianças fazem o papel dos reis. Eles entram com toalhas na cabeça e com seus presentes nas mãos, os dois primeiros de maneira bem ensaiada, mas o terceiro parece desligado e meio fora da ordem. O primeiro se abaixo, coloca a caixa no chão e diz: “Eu lhe trouxe ouro“. O segundo faz a mesma coisa e diz: “Eu lhe trouxe mirra“. Então o terceiro, um pouco desinteressado, diz: “Frank mandou isso“.

O que chama a atenção, diz Ken Robinson, é que as crianças se arriscam.

E, particularmente nessa história, existem dois outros elementos fundamentais pra entender o que poderíamos chamar de uma certa “arte perdida da espontaneidade e autenticidade“. Ainda que tenha acontecido uma quebra na atividade do grupo, uma infidelidade à história que era o papel dos 3 alunos, há que se atentar para o lado positivo disso. O primeiro é que o 3º garoto se desconectou das pressões sociais e educacionais por uma performance condicionada, que provavelmente lhe valeria o aplauso dos pais e de todo o auditório, e se manteve fiel ao seu completo desinteresse pela atividade. Isso sem pensar, de maneira natural e ingênua. A segunda coisa que é que ele foi sincero no seu desinteresse, não quis inventar nada nem “tampar” algo que não sabia com uma pose ou algo que pudesse não lhe envergonhar — ele disse apenas o que aconteceu. “Frank enviou isso“. (Frank provavelmente deveria ser o coordenador da apresentação ou algo assim.)

“Não estou dizendo que fazer errado é ser criativo”, diz Ken Robinson. “Às vezes fazer errado é simplesmente fazer errado. Mas nós adultos perdemos a capacidade de fazer isso, de error e de sermos originais. Nós estigmatizamos o erro. E estamos criando sistemas educacionais com esse comportamento, de condenar o erro e a criatividade”.

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