Na guerra invisível que o homem comum trava com si mesmo e com a realidade para “acordar” e viver na boa, em qualquer momento da vida, uma das mais recorrentes batalhas é com nossos próprios pais. Ou, melhor, contra os padrões automáticos, costumes, hábitos, modos de pensar e agir que herdamos deles praticamente sem consciência de ter herdado. Odiar os próprios pais é um grande indicativo que você está no caminho certo, disse uma vez um guru espiritual. Acho que era só pra chamar a atenção, mas tem um sentido. Alguns desses hábitos hereditários podem ser benéficos, e na escala da evolução humana e dos hereditarismos humanos pode ser positiva, mas é preciso ter plena consciência do que se passa (tudo bem, eu acho que é preciso). Viver é preciso, repetir não é preciso. A Lula e a Baleia é bom por causa disso, e porque essa guerra é meio trágica e meio cômica, exatamente como o filme é. Que as tristezas aconteçam e nos levem a felicidades mais verdadeiras e menos efêmeras, essa é uma consequência de tramas como essa. É sintomático que o caso mais “perdido” (totalmente entre aspas) do filme é o que carrega todo o protagonismo dele: Walt, o filho de Bernard (Jeff Daniels). Não por acaso, uma lembrança da infância (e como as temos, e quantas as temos) é via de regra um bom fio da meada para o senha que abre a cabeça do nosso personagem. O tom realista independente americano (estilo Todd Solondz) dessa ficção dá aquele gostinho de filme bom não-convencional – mais ou menos como é a casa do Bernard quando ele se muda do apartamento da ex-mulher. Pra quem tem pais, vale a pena. ****/*
A Lula, a Baleia e os assustadores crustáceos da infância
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Faz tempo que vi esse filme, faz tempo que li esse post, e ele tem me acompanhado há dias… especialmente essas duas frases: “Odiar os próprios pais é um grande indicativo que você está no caminho certo” e “Que as tristezas aconteçam e nos levem a felicidades mais verdadeiras e menos efêmeras”. Gostei muito do filme, gostei muito do post. :)